lembro-me do calor
que fazia nas tardes de março
os sanhaços cantavam alegres
no pé de mamão macho
plantado nos fundos do quintal
minha mãe, mandava as crianças
com muito cuidado,
colher os figos bem verdes
para fazer os doces de compota
que enfeitavam a cristaleira
durante todo o ano
meu pai, logo cedo, se irritava
com o barulho da oficina mecânica
na subida da rua sem calçamento
o vendedor de loteria magricelo
gritando feito louco:
olha a vaca! olha o porco!
é a sorte grande chegando!
à noite luzia os vaga-lumes
na beirada do barranco
perto da escadaria do morro
ao sair da minha cidade
para procurar espaço e liberdade
o meu corpo ficou exposto à solidão
e a minha alma se apegou às memórias
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1 comentários:
Que delícia! Essas lembranças, essas tardes, em que tudo parecia fazer sentido, em que tudo era paz. beleza! Bj
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