29 de setembro de 2012

setembro cinzento

findo setembro
pálidos segredos
guardados em estádios
ou em torres
ficaram vácuos enormes
de saudade e de tristeza
até o mar sempre salgado
chora lágrimas adocicadas

25 de setembro de 2012

A varanda



Nas manhãs quentes
de um verão escaldante
eu me lembro muito bem
na casa de minha infância
havia uma varanda
sustentada por duas colunas
chamuscadas de sol
e desbotadas pelo tempo.

Algumas folhas secas
levadas pelos ventos noturnos
caiam no chão de cimento
disputando espaço
com uma mesinha de centro
e duas cadeiras namoradeiras
meu pai com as suas mãos
brancas de candura
cheias de gestos e paciência
tratava dos doentes.

Hoje as tardes da minha vida
mesmo cheias de chuvas e trovoadas
ainda não apagaram a simetria das lembranças.

Ah, como eram suaves os dias
na casa de minha infância!

22 de setembro de 2012

haicai



No dia 22 de setembro, exatamente às 11:49 no horário de Brasília, começa oficialmente a Primavera no hemisfério Sul.
a primavera chegou
no hemisfério americano
prometendo chuva e flores

20 de setembro de 2012

haicais




o inverno vai embora
não pode esperar
a primavera tão ansiosa

19 de setembro de 2012

O encontro


para o casal Cris e Alcione

Domingo no restaurante
Afloraram sensações
Que o silêncio não cala
Porque vem de dentro
Onde o coração pulsa
E o peito não sabe guardar.

As palavras ficam mudas
E distantes
Adormecem ao meio-dia
Quando não conseguem
Expressar o sentimento.

O encontro fechou a porta da solidão
E abriu a janela da alegria.

A chave, eu perdi; amigos, eu achei.

17 de setembro de 2012

A castanheira



Sempre que cai uma folha morta
Nasce um poema.

A brisa balança
Com tanta leveza os galhos
Que o silêncio parece agudo.

O inverno antes de ir embora
Derruba todas as folhas
Da castanheira plantada
Na porta da casa velha.

O tronco sozinho
Espera a primavera.

Mais uma folha cai suavemente
E nasce mais um poema.

12 de setembro de 2012

Ode para Adélia


Adélia Prado tem toda razão
O poema já nasce pronto
O que dá trabalho é tirar excessos
Tudo na vida vem em abundância
Cabe a cada um enxugar
Ou escolher entre dois caminhos
Qual é o melhor a seguir.

Prado, ensina-me a ser poeta
Enquanto limpo os peixes!

11 de setembro de 2012

Recordação



Já é muito tarde
Para que eu esqueça.

Da minha avó materna
Nas tardes quentes
Sentada no alpendre
Penteando a cabeleira.

Da minha mãe
Depois do banho
Nas tardes frescas
Sentar na porta
Da casa da vizinha
Para jogar conversa fora.

Do meu pai sóbrio
Fazendo palavras cruzadas
Depois do almoço
Para passar a hora mais depressa.

Do vizinho mecânico
Fazendo maior barulho
Para consertar as jardineiras.

Do turco na porta da casa
Com duas muletas e uma perna de pau.

Da pilha de toras de madeira de lei
Invadindo a rua estreita
E atrapalhando quem passava.

Dos rapazes serelepes
Nas noites de lua cheia
Fazendo serenata madrugada adentro
Para moças mais recatadas da cidade.

Dos vários loucos de rua
Que a população cuidava
Com muito carinho e pouco medo.

Não vale a pena chorar
Recordar é muito melhor!