18 de abril de 2012

Timoneiro

ao meu tio Augusto Veríssimo da Silva


não há mais lágrimas
em sua face, secaram;
mas ele continua firme

não há mais noite iluminada
só escuridão;
mas ele ainda brilha

não há mais terra arada
nem mata nem capoeira
só deserto;
mas ele insiste em plantar flores

não há mais mandato
só pleito e rixa;
mas ele não precisa mais de cargos

sobre seus ombros
pairam familiares e amigos
que já morreram
e ficaram perdidos
nos raios de luz
que as tardes ensolaradas
deixaram escapar
entre as nuvens espessas
de um céu cinzento

sob seus pés calejados
levantaram muita poeira e pó,
necessidades e leis,
distâncias e disputas
que a vida pública impõe
e reserva aos homens de bem

diante dos seus olhos vermelhos
e lacrimejantes pousaram
tantas dúvidas, contentas e desavenças;
mas ele sempre sereno e atento
e com sobriedade audaz
manteve em suas mãos fortes
o mastro que iça as velas
e o leme que nortea o barco

os ventos, as tempestades
e as dores não deixaram trincas
nem frissuras em seu rosto
se, hoje, a vida está sendo dura;
o tempo, ao contrário, dócil;
nada excede ou transborda
tudo está na medida exata

1 comentários:

Mirze disse...

Lindo!

Mauro, um dos mais belos que já li.

É verdade: "tudo está na medida exata"

Parabéns

Beijos

Mirze