ao meu tio Augusto Veríssimo da Silva
não há mais lágrimas
em sua face, secaram;
mas ele continua firme
não há mais noite iluminada
só escuridão;
mas ele ainda brilha
não há mais terra arada
nem mata nem capoeira
só deserto;
mas ele insiste em plantar flores
não há mais mandato
só pleito e rixa;
mas ele não precisa mais de cargos
sobre seus ombros
pairam familiares e amigos
que já morreram
e ficaram perdidos
nos raios de luz
que as tardes ensolaradas
deixaram escapar
entre as nuvens espessas
de um céu cinzento
sob seus pés calejados
levantaram muita poeira e pó,
necessidades e leis,
distâncias e disputas
que a vida pública impõe
e reserva aos homens de bem
diante dos seus olhos vermelhos
e lacrimejantes pousaram
tantas dúvidas, contentas e desavenças;
mas ele sempre sereno e atento
e com sobriedade audaz
manteve em suas mãos fortes
o mastro que iça as velas
e o leme que nortea o barco
os ventos, as tempestades
e as dores não deixaram trincas
nem frissuras em seu rosto
se, hoje, a vida está sendo dura;
o tempo, ao contrário, dócil;
nada excede ou transborda
tudo está na medida exata
1 comentários:
Lindo!
Mauro, um dos mais belos que já li.
É verdade: "tudo está na medida exata"
Parabéns
Beijos
Mirze
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