guardo nos olhos
os últimos raios do sol
de uma tarde de outono.
e ainda escuto, ao longe,
os pios dos pássaros
deixando a capoeira.
a saudade é muito breve
e leve como o fio dourado
do sol no espelho d'água
do rio que banha a cidade.
26 de maio de 2011
Saudade
15 de maio de 2011
pesagem
14 de maio de 2011
As estrelas e eu
a casa onde nasci
era de esquina e amarela,
o reboco a cal
e a rua de terra.
eu sei que a poesia
só recupera os restos,
as cores e os gritos.
a intensidade da paixão, não!
a poesia não é como os elefantes,
não tem memória.
quer voltar sempre
mas não sabe o caminho.
as estrelas nascem
todos os dias
por isso não precisam
de memória
já sabem o caminho a percorrer –
o infinito.
eu olho para o céu
e só enxergo claridade e lonjura.
13 de maio de 2011
As bordas do tempo
o que há de mais caro
na alma de um poeta?
suas palavras?
seus versos? Não!
é sua capacidade de guardar
para o resto de sua vida,
o silêncio profundo
da igreja Matriz vazia.
lembrar da delicadeza
e do perfume doce e suave
da Dama da Noite
na esquina da rua
sem iluminação.
preservar nas narinas o cheiro
das flores e das velas
da procissão da Semana Santa.
reter nas retinas cansadas
o brilho e os gestos das moças
andando na pracinha pra lá
e pra cá até começar
a sessão do cinema.
o que há de mais caro
na alma de um poeta
são suas lembranças
que rondam as bordas
do tempo.