29 de dezembro de 2009

As curvas do meu rio

Para o meu amigo (feiticeiro, irmão e rezador) Braz de Souza Reis

Saudade de um tempo?
Não tenho, não!
Tenho saudade de não haver um tempo
para lembrar tudo que me aconteceu.

O tempo não existe.
O tempo é o que acontece.

O meu coração só reclama
dos dias felizes na infância,
dos amigos que ficaram nas minhas costas,
das estradas que passei caminhando ou andando,
dos rios que me banhei
nos dias quentes e nas madrugadas frias,
das vigílias nas noites escuras,
das visitas nos cemitérios
e das muitas mortes em vão.

A vida sempre quis me levar
para as margens esquerdas dos rios,
que é saber quando a bebida é certa
e a companhia errada.

Andei a minha vida toda
Nas margens direitas dos rios.
Onde os pássaros cantam.
Os preás procriam e engordam.
Os rebanhos pastam livremente.
E os ingás curvam seus galhos.

Só depois de muito tempo
aprendi que as cinzas
não têm asas ou destino
são os ventos que as levam
para os campos e o horizonte.

0 comentários: