30 de junho de 2009

A grávida

à minha amiga Karina Assad Mazzieiro Panadés











Eu fui passear na praia da vida e dos sonhos. E vi uma mulher grávida.
O seu sorriso parecia mil sorrisos que as espumas do mar desenhavam nas ondas.
Os seus olhos brilhavam tanto que as estrelas pareciam lamparinas suspensas no céu.
A sua face parecia o semblante das sereias que encantam os argonautas aventureiros.
Quando voltei desse passeio pela praia, encontrei minha amiga caminhando de mãos dadas com o seu amado.

26 de junho de 2009

Haicais




o lobo guará
sabe a hora certa
para sair do mato










pelo aroma da flor
os pássaros silvestres
conhecem a fruta

25 de junho de 2009

Haicais







Poema


24 de junho de 2009

Haicais











A vida só pode ser reinventada
se a noite for escura
e o amor – uma manhã de verão














os sonhos me libertam
o verbo me prende
e as palavras me decifram
















O amor não é breve
nem o tempo é longo
– passageira é a vida

19 de junho de 2009

A despedida

Não adianta
Tentar definir
Um momento
Como este
Nem palavras
Nem pincéis,
Nem cores.
Não fui feito
Das entranhas
Das montanhas
Nem do sal
Que compõe
As águas do mar.

Fui feito
De carne
De ossos
E de lágrimas
Fui forjado
Com têmperas
Das manhãs
Das tardes
E das noites claras.

Uma parte de mim
É solidão
A outra,
Essa, é burbúrio
Porque ninguém
Consegue
Ser feliz sozinho.
O mar sabe
Que a imensidão
É a soma de muitos
Rios e riachos.

Nunca fui inteiro
Sempre em partes
Uma parte
São os amigos
Que me completam
Como agora
O que me parte
E me reparte
Em memória
E depois,
Muito depois
Saudade, saudade
E mais saudade.

Dos amigos
Que fiz
Nesses últimos
Anos de lida.
Prefiro pensar assim
As pegadas apagadas
Dos amigos.

A distância
Nunca vai me roubar
A ausência e a falta
Que me farão
Daqui para frente
No meu coração.

Foram os anéis de prata
E ficaram os dedos
E as mãos limpas dos amigos.

16 de junho de 2009

A senhora das tardes

In memorium à dona Lucy Milagres Calhau,
mulher que em toda sua vida dedicou à família e
sempre soube acolher os amigos com elegância e com coração.















Antes que a chuva caia
E a minha vida também
Antes que a ave cale seu canto breve
Antes que a aragem da brisa
Atravesse o jardim florido.
Antes que morra dentro de mim
A lembrança da senhora das tardes.

Antes do fim do dia da minha lucidez
Antes que as luas e as noites quase mágicas
Morram com o calor do dia seguinte
Quero guardar aquelas alegrias infantes
Quando minha mãe com cheiro de alfazema
Anunciava que iria visitar a senhora das tardes.

Antes que eu perca o gosto das tardes
Antes que falte água límpida e clara
Para regar a sementeira da minha memória.
Antes que o paladar ocre das desilusões
E das sombras malditas me embruteça
Quero sentir a delicadeza da senhora das tardes
E nunca perder a doçura das guloseimas em compotas
Misturada com a suavidade da sua voz meiga
Quero pronunciar todas tardes seu nome Lucy

13 de junho de 2009

Não adianta

Dia nublado
É igual pardal
Na cerca do quintal.
Não tem música.

Noite sem estrelas
É igual paixão
Desenfreada e louca.
Sem gozo e sem sexo.

Trilhos sem trem
É igual blues cantado
Por uma dupla sertaneja.

Aprendi ao longo da vida
Que ela pode ser boa
Mas tem receitas
Não adianta
Já vêm todas (quase) prontas.

12 de junho de 2009

Não cabe

Chorar, eu já chorei muito
Mas quem nunca chorou
Pelo leite derramado?
Vem a noite
Chega a madrugada
E tudo passa.

A vida é assim mesmo.
Tudo, um dia, se ajeita
Só não tem jeito
É a morte
Porque só a morte
Não cabe nos meus sonhos.

11 de junho de 2009

Que alegria!

Minha vó Filinha
Tinha uma cabeleira
Tão grande e grisalha.
As tardes que ela penteava
Ficavam tão longas e infinitas
Quanto seus próprios cabelos.

Eu ficava, de longe,
Pensando quem tem
Uma cabeleira daquele tamanho
Não morre nunca.

O dia que ela cortou
Os cabelos longos e grisalhos
Chorei outra tarde inteira
Pensando que ela iria morrer.

E ela não morreu, que alegria!

Foi a primeira coisa
Que aprendi de verdade:
A vida é muito mais
Que uma cabeleira.

10 de junho de 2009

Só viajo de trem



Já tive muita pressa
Hoje não tenho mais
A noite é muito maior
Que meu sonho
O caminho é muito mais longo
Que minhas passadas.

Hoje eu só quero paz
E nada mais
Só viajo de trem
Porque ele vai sempre devagar.

9 de junho de 2009

Meus mortos

Eu não tenho medo
Dos mortos, esses coitados;
Não voltam mais.
Eu tenho medo
Das chuvas, essas sim;
Sempre voltam
Trazendo trovões e raios.

Em toda minha vida
Meus mortos
Só me deixaram saudades
Mas são tantas saudades
Que me esqueço
Do medo das chuvas.

4 de junho de 2009

Ouro e prata

Meu amor, primeiro,
Veio só as palavras;
Depois, mais palavras;
E mais um outro tanto,
De palavras.
Ora, era a noite
Como cenário e fundo.
Ora, era o barulho do rio
Como melodia e sombra.
E a lua imponente e sóbria
Como testemunha
Das juras e promessas
E aí, então, veio o resto e tudo.

E hoje, meu amor é alquimia
Em forma de aliança
Fundida em ouro e prata.

3 de junho de 2009

Haicais







a beleza do sabiá
não está nas penas
mas no canto matinal









o que inebria
a abelha silvestre
é um jardim florido













fruta que pássaro
não procura
cuidado, é veneno!

2 de junho de 2009

Seria














Ainda que fosse
Para o céu dos céus
Minha mulher
Seria as estrelas desse céu.

Ainda que atravessasse
O mar dos mares
Minha mulher
Seria os grãos de areia
Da minha praia.

Ainda que percorresse
Todas as distâncias da terra
Minha mulher
Seria o destino dos meus passos.

Ainda que... Ainda...
Minha mulher seria...

1 de junho de 2009

Só coisa leve















Meu coração
Está igual à filosofia
Do Adeir, da locadora,
Filmes, só coisa leve!
Dor, tristeza e drama
Baseado em fatos reais
Nem pensar!
Só coisa levíssima
E de colherinha.