30 de maio de 2008

O quintal














Eu acredito
Que há uma primavera
Para cada vida.
Assim como
Sei que serei pó,
Quem sabe cinzas
E nada mais.
Enquanto não chega
O inverno
Quero guardar
Minhas lembranças
No jardim do fundo
Do meu quintal
Que existia
Na casa amarela
Da rua do correio
Esquina do mundo.

29 de maio de 2008

O dia de São José














Meus dias
Já foram mais longos.
A sementeira farta
E os frutos bem maduros.
O tempo era
Mais complacente
E muito mais moroso.
Não havia sobressalto
No dia de São José
Chovia mesmo.

28 de maio de 2008

haicai


haicai












27 de maio de 2008

Desespero














Meu pai
Quando não bebia
Fazia palavras cruzadas.
Tudo no fundo
Era a mesma coisa.
Era uma forma
De desespero.
Perder a lucidez
Ou decifrar palavras.

26 de maio de 2008

Infante














Tento fazer
Um rasgo de luz
Na minha ambivalência
Que é encontrar
Um espaço
De lucidez
Entre o passado
E o presente.
Mastigo noites escuras
E bebo doces manhãs
Da minha infante
Solidão de saudades.

21 de maio de 2008

Sina de poeta

Como é bom ter um amigo como o Luiz, além de colega de trabalho é poeta, vem sempre me abastecendo de lindos poemas. Sabe lidar com as palavras e as emoções do cotidiano como ninguém. Obrigado, Luiz Antônio Dias, por mais essa pérola achada nos mergulhos do seu interior emotivo:


Sina de poeta

Há dias em que me sinto lido pela poesia.
Ela me despe, me denuncia
e me diz como estou.
Ela me lê, segue meus passos por onde vou.
Ela me invade e me veste.
Ela me arranha e me constrói.
Ela sabe de mim, agora,
Na minha estação de dentro e de fora.


Luiz Dias

20 de maio de 2008

Sou de vidro














Acho que Deus
Não me fez de barro.
Fez-me de vidro
E de vidro transparente.
Eu não tenho
Vísceras nem coração pulsante.
Só aparece
Meus sentimentos
E minhas saudades incessantes.

19 de maio de 2008

Ninguém se afasta















O tempo não faz
A distância.
É a nossa mente
Que mente
Para as nossas lembranças.
Ninguém se afasta
De si mesmo.
Não adianta
Atravessar ruas
Correr estradas
Navegar mares
As lembranças
Vencem sempre.
Porque elas
estão dentro
de nós.

16 de maio de 2008

Dos outros não vale














Não vale a pena
Descrever sentimentos
Dos outros.
E muito menos
Inventar um amor.
O passado
É meu sustento.
Guardo
por muito tempo
as lembranças
que me acompanham.
A rua
que descia
até o córrego
João Pinto Pequeno
Que passava
Ao lado
Do prédio do correio.
Lembranças
Dos outros não vale
Bastam as minhas.

14 de maio de 2008

haicai




a palavra é semente
germina na mente
– nasce um texto ou um poema

haicai


12 de maio de 2008

Bem perto

à minha filha Marjorie Veríssimo Pinto de Paula















Agora que você mora sozinha
A solidão floresceu
No meu jardim
E dentro de mim.

Eu não queria
Que você, minha menina,
Crescesse tanto assim.
Eu queria você
Sempre bem perto
De mim.

9 de maio de 2008

haicais










8 de maio de 2008

haicais






7 de maio de 2008

Grupo escolar














No trajeto
Do Maria Guilhermina Pena
Até a casa amarela
Da esquina
Aprendi o essencial:
Falar baixo
E escutar muito mais.
Acalmar a alma
E sonhar alto.

6 de maio de 2008

Pequenas coisas














Tudo passa.
Todos vão embora.
Restaram apenas
Pequenas coisas:
A minha saudade
E as minhas lembranças.
A igreja católica
E a praça da matriz.
A igreja presbiteriana
E o alto-falante.
A pensão do Alidelmo
E o bar do Zé Preto.

5 de maio de 2008

Pra sempre














A beleza não existe
Porque não dura
Pra sempre.
A paixão não permanece
Porque não perdura
Pra sempre.
Só o Japão
Não vai acabar
Porque resistiu às ogivas.
A minha cidade
Também porque
Foi erguida
À beira de um rio
De água doce
E perene.

4 de maio de 2008

Sempre de longe














Tudo nesta vida
Tem um fim
Quando faltam
A esperança e Deus.
Porque as estrelas
Vão brilhar
Sempre no céu.
A lua cheia
Vai continuar
Espiando a terra
Sempre de longe,
De muito longe.
Só quem ama
De verdade
Gosta de ficar
perto, bem perto