31 de março de 2008

haicais












As palavras são grãos de areia.
Desaparecem com "backspace".
É por isso que eu as invento.


Escrevo todos os dias e sempre.
E sempre as mesmas palavras.
Um dia por teimosia outro por insônia.


Já tive livros raros na estante.
Já tive jovialidade e ilusões.
Hoje vejo os livros nas estantes.

26 de março de 2008

haicai

gata no cio
sobe no telhado
e briga com a lua

24 de março de 2008

Um grito de canção











O grito do boiadeiro
Ecoando atrás do morro
Ficou profundamente guardado
Dentro do meu coração
Como um sofrido lamento
E uma comprida canção.

22 de março de 2008

haicais


Cheiro de terra molhada.

Zumbido de abelhas silvestres no ar.
Não duram para sempre. Basta fechar os olhos.

A vida não é feita de dias melhores,
esperanças guardadas e ânsias contidas.
É feita também de lâminas cortantes e abismos profundos.

Delicadezas e fragilidade, eu suporto muito bem,
aprendi com vida estas permissividades
O que me machuca mesmo cabe debaixo das unhas.

Vou me reinventar de novo,
ir um pouco além de mim,
o meu mundo cabe nas caixinhas que eu pinto.


A vida está por aí







Se vou por aí
vou preencher os vazios
que o dia de trabalho
não conseguiu preencher.

As notícias dos jornais
não me dizem nada
ou quase nada
daquilo que a vida
deixou transparecer.

A vida está por aí
na boca do povo
nas esquinas das avenidas
no universo de cada coração
e nas palavras perdidas.

21 de março de 2008

Meu chão














Lado a lado
a paixão e eu
este é o meu chão:
a paixão,
só a paixão.


O meu coração é apaixonado
mesmo pulsando alado.
A paixão é meu pedaço de pão
que me alimenta,
me sustenta
e, às vezes, me mata.


Minha paixão é de vida,
de apaixonar,
de amar.
Paixão de amar a minha mulher,
os meus filhos
e a minha profissão.


No meu coração:
a paixão,
só a paixão.


Este é o meu chão.

20 de março de 2008

Eu quero










Não quero
Ver apenas boa vontade
Porque, como dizem,
Disso o inferno já está lotado.

Eu quero é trabalho
Para os meus braços.

Eu quero é a terra
E muito espaço.
Eu quero é plantar a semente
E esperar o outono
Para colher o fruto
E refazer a semente.

19 de março de 2008

A Geologia do Amor










Eros, deus do amor,
filho de afrodite,
a deusa do amor,
seu pai Zeus, Ares de codinome Hermes,
tinha um irmão: Anteros,
deus do amor correspondido.
Anteros tinha dois amigos:
Potos (saudade) e Himeros (desejo).

Eros nasceu na Grécia antiga
E, muitos séculos depois,
naturalizou-se romano
adotando um nome –
quem tem um coração
frágil sabe – Cupido.

Eros, um dia,
apaixonou-se perdidamente
pela mortal Psiquê
e deu-lhe como presente:
a vida eterna.

Dizem que Afrodite
nasceu das espumas do mar.
Ah, que jeito gostoso de nascer!
Nascer das espumas do mar
para ensinar aos pobres mortais
que a vida só é eterna
para quem sabe amar.

18 de março de 2008

A tarde










Caiu a tarde
o sussuro dos ventos
a brandura do sol
e a vida entardeceu.

Mansamente vem a noite
a canção dos sinos
o negrume do céu
e o dia anoiteceu.

Agora tudo é saudade.
O homem dorme
e a estrela brilha.

17 de março de 2008

Dama de azul

À Mylène Camilo Mendes de Oliveira Marques











Dama de azul
que viaja
pra Fama
e singra
na Arca de Noé
que flutua
sobre o espelho d’água
mas não voa.

Dama de azul
que ama as filhas
Marianna (quase moça)
e Carolina (quase menina).

Dama de azul
Suave espuma flutuante.

14 de março de 2008

Agora você pode sair por aí


Ao meu filho Ivan












Agora você pode sair por aí.
Ao sabor do vento e do espírito
Que sopram livres.
Você pode sair por aí
Os caminhos estão abertos
As ruas livres sem semáforos.


Agora você só precisa
Controlar os seus impulsos
A sua vontade de sair por aí.
Nessa vida tudo tem a hora certa
Nada é impossível
Para quem sabe o que quer.


Você está habilitado para dirigir
e sair por aí.
Lembre-se apenas que a vida
É feita de trilhas e curvas
Para alcançar o que se almeja.


Saber esperar é que leva mais longe.
Agora você sair por aí.

13 de março de 2008

O viver

Viver ternamente
é ter no coração
uma única razão
para acreditar
na força do amor.

É perceber no ar
a leveza do vento.
É extrair da flor
a doçura do mel.

Viver ternamente
é ter na alma
a certeza
de que a vida
é o néctar do céu.

12 de março de 2008

A minha cidade é solidão

Acordo cedo
Pra ver os primeiros raios do sol
A luz matinal é mais intensa
porque guarda resquícios da noite
E do brilho das estrelas.

O dia fica mais longo
E mais distante as lembranças
Da cidade onde nasci e cresci
As ruas são as mesmas
A enxurrada que desce
Ladeira abaixo vai desaguar
No mesmo rio e no mesmo mar.

Hoje guardo na retina
Apenas a ponte, as pedras e a poeira.
A cidade que um dia foi Lajão
Hoje acordei mais cedo
Pra ser filho da solidão.

11 de março de 2008

haicais

quem só busca as palavras
não encontrará nada
é o coração que traz os bens


quem lavra a terra seca
mendigará no verão
e não colherá coisa alguma



o que separa o grão da casca
não é o tamanho do pilão –
a força que é empregada



não são as asas nem o vento
que levam a abelha ao mel
– o desejo de construir a casa

9 de março de 2008

haicai













as imagens e as lembranças
que ficaram do passado distante –
um rosto e um vestido de nuvens azuis.

6 de março de 2008

haicais

às quatro horas mastigo o pão
falando da vida alheia
e é o chá quente que queima a minha língua.

haicais



as quatro horas mastigo o pão
falando da vida alheia
e é o chá quente que queima a minha língua.











já andei por caminhos e trilhas
já atravessei rios e riachos
agora fico preso em estranhos corredores.

3 de março de 2008

versos e imagens


o que escrevo
são brisas amenas das paixões
que eu invento e acredito.

haicais

ter fé e esperança
sem terra, sem chão
é ave rapina com fome







meu pai já dizia, há muito tempo,
quem chora por falta de pão
além de miserável, não tem razão!









ninguém rasga o peito
ganha terra, abre caminho
gritando pela rua afora

1 de março de 2008

haicais


o tempo passa
sem deixar vestígios
na alma não, no corpo sim!







não há nada
além da noite de luar
só penumbra e corpos