Distocando e bassourando
Já viajei muito – disse Clemente – e nunca deixei de fazer qualquer coisa por estar com medo. A vida não perdoa os medrosos. A vida é do tamanho do nosso pensamento, não é mais nem menos.
Com essas palavras, Clemente passava o dia inteiro subindo e descendo as ruas da cidade. Podia estar chovendo ou fazendo sol. Sempre com uns ramos em uma mão e na outra uma vassoura de piaçava. Subindo e descendo as ruas da cidade. Varrendo as ruas e arrancando as flores do jardins das casas.
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Foram muitos anos a rotina do Clemente pela cidade. Quando não estava varrendo as ruas e arrancando as flores dos jardins sentava nas calçadas e não parava de contar as suas histórias.
A sua expressão atravessou várias gerações na cidade: distocando e bassourando.
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Quando ele morreu a cidade ficou muito suja, mas toda florida.
14 de dezembro de 2007
Contos urbanos da loucura III
Postado por
Mauro Lúcio de Paula
às
17:49
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